Minha História
Uma vida dedicada ao vooAmor pelo Voo
Realizando meu sonho de voarMinha vida foi marcada por meu amor pelo voo. Do astronauta da infância à realização do sonho de voar pelo meio possível. Saiba como superei as dificuldades em direção à realização dos meus sonhos. A essência é jamais perder a capacidade de sonhar.
Um ser humano não morre quando deixa de existir: ele morre quando deixa de sonhar.
Sem patrocínios - apenas com apoio da família e amigos - consegui realizar meu sonho de voar. Aprendi que é preciso sonhar com o possível, e realizar o sonho dentro das possibilidades.

Principais Fatos Históricos
Os capítulos mais importantes da minha vida ligados ao vooApós descobrir o parapente em 1996 passei meus dias dedicando-me a aprender sempre mais, e a ajudando outras pessoas a voarem em segurança e a mudarem a sua relação com o medo através da técnica de pilotagem. O foco na segurança em voo me levou às acrobacias, o que me tornou mundialmente conhecido como instrutor avançado.
A minha história de amor peo voo vem da infância: a primeira palavra que eu disse foi luz. Nem papai, nem mamãe, mas luz. Segundo minha mãe, desde bebê ainda no colo eu vivia focado no céu, no sol. Tudo o que tem a ver com o espaço, com o céu, com o voo, sempre me atraiu de uma forma quase inexplicável.
Rapidamente descobri que não poderia ser astronauta. Nem piloto de avião. Nem paraquedista profissional. Mas o sonho permanecia presente, era como uma certeza de que eu tinha nascido para voar. Não se espera que alguém compreenda essa certeza: só quem nasce com ela sabe como é. Algum dia eu haveria de voar.
Uma vez que tenhas experimentado voar, andarás pela terra com os olhos voltados para céu, pois lá estiveste e para lá desejas voltar.
Por mais clichê que seja, é impossível não citarmos a famosa frase de Leonardo da Vinci sobre as sensações do voo. Eu tinha a certeza que um dia voaria: não sabia como, nem quando, mas era certo.
No início de 1980 a minha família se mudou para Florianópolis, em Santa Catarina: uma linda ilha no sul do Brasil. Com 42 praias é uma cidade muito voltada ao esporte, e foi lá que tive o contato com os esportes de adrenalina. Primeiro o surfe aos 10 anos, que pratiquei até começar a voar. Aos 15 anos descobri o mountain bike downhill, certamente a mais radical de todas as formas de ciclismo. Começava ali uma história de amor pela adrenalina.
No verão de 1996 começaram a surgir os parapentes, e após uma sessão de surf um outro surfista pousou do meu lado. Em poucos minutos explicou como funcionava o voo, e no dia seguinte tive minha primeira aula de parapente. Em uma semana fiz os primeiros voos, e a realização do sonho de infância de voar. O que parecia impossível estava acontecendo, e ao voar tive a certeza que realmente a minha vida estava ligada ao voo de forma inseparável.
No verão de 1999/2000, esteve passando o verão em Florianópolis um instrutor francês, um dos precursores da moderna acrobacia em parapente. Este instrutor ministrava um curso de treinamento dos eixos de movimento do parapente, e fui o único interessado. Foram 3 dias de curso, que acabaram virando 3 meses: o custo do treinamento foi pago com a hospedagem do instrutor no verão.
No final daquele verão eu já dominava os movimentos do parapente, e o instrutor me disse que eu levava jeito para as acrobacias. E ali foi plantada a semente do que seria o primeiro piloto brasileiro a se profissionalizar nas acrobacias com o parapente, ainda no ano 2000. No final daquele ano participei de meu primeiro evento internacional, na Argentina, onde conheci os melhores pilotos do mundo da então nova geração do parapente acrobático.
Entre 2004 e 2006, participei de eventos do Circuito Mundial de Parapente Acrobático da FAI - Federação Internacional de Aerodesporto. Em 2004, quando tive algum orçamento próprio para as competições, terminei ano em 8º lugar no Ranking Mundial. Obtive o 4º lugar individual na França e também na Argentina e no Brasil (mais a seguir), e o 5º na Itália, melhor colocação de um brasileiro no ranking até então.
Abandonei as competições em 2007 com diversos outros pilotos, após comprovarmos um esquema de manipulação de resultados em competições mundiais da FAI. A descoberta ocorreu no Acroaria na Itália, a manipulação se repetiu no 1º Campeonato Mundial na Suíça uma semana depois, e foi mais além...
Minha grande decepção foi o 1º Campeonato Brasileiro de Acrobacia, onde fui vítima do maior roubo de resultados já visto. Fui o único piloto a fazer o Infinity Tumbling na competição - partindo do Rythmic SAT e do Tumbling - e o "vencedor" foi um piloto medíocre que caiu dentro do parapente 2 vezes (o que o desqualificaria do evento) e jogou o reserva em uma delas (o que também desqualifica o piloto).
Atrás dele 2 outros pilotos, que não realizaram o Infinity Tumbling mas eram "apoiados" pela mesma empresa patrocinadora do evento e do suposto "campeão". Fui relegado à 4ª colocação no evento, e durante a premiação as vaias e gritos de "ladrões" foram a tônica. Repito: o maior roubo da história.
Foi em 2005, durante seus treinamentos em Organyà na Catalunya Espanhola, que descobri a conexão mais incrível do parapente acrobático: Rythmic SAT to Infinity Tumbling. Por seus egos interesses, os pilotos mundiais não admitem ter sido eu o descobridor, porém ninguém no mundo clama para si esta descoberta. Estranho? Nem tanto. Avalie os fatos de forma imparcial e a realidade vem à tona.
Desde sepre os resultados em competições são manipulados, e uma equipe de pilotos dominava o circuito naquela época. Para tentarem manter uma pseudo hegemonia - de serem os primeiros a realizarem todas as manobras - jamais admitiram a minha descoberta. Quem estava lá e participou entre 2004 e 2006, sabe a verdade: o segundo piloto a realizar esta conexão levou meses para copiá-la.
A falta de reconhecimento pela descoberta do Rythmic SAT to Infinity Tumbling me desanimou muito. Além dos resultados manipulados por interesses nos bastidores, não ter a minha descoberta reconhecida foi um golpe duro. Praticamente parei de voar, tendo acumulado no máximo 20 horas entre 2008 e 2009. Tentei voar Cross Country, mas claramente não é aquele o meu agente motivador. Faltava uma dose maior de adrenalina.
E foi em 2010 que voltei ao parapente acrobático. Não mais para competir - que na minha opinião desperta o lado mais obscuro do ser humano - mas simplesmente pelo prazer de voar acro. Pela alegria de sentir novamente o sangue cheio de adrenalina fluindo nas veias, o som do vento ao redor do velame e das linhas durante as manobras. Hora de voltar a fazer aquilo que eu nasci para fazer.
No final de 2010, com o sucesso da Para Pro Air Sports e a representação da U-Turn Brasil, descobri que teria as condições para realizar um antigo sonho: ir para os EUA aprender a saltar de paraquedas. Mais um antigo sonho da juventude que poderia realizar às custas do próprio trabalho, de forma ética e honesta, e sempre ajudando ao próximo a realizarem os seus sonhos. Nosso valor vem do que fazemos pelos outros.
O objetivo era claro desde o início: eu sonhava voar a wing suit - o traje com asas - desde que o inventor da versão moderna deste traje, Patrick de Gayardon, voou o primeiro traje com asas no início da década de 1990. Atualmente estes trajes voam de forma bastante decente, se levarmos em conta o aspecto - a relação entre a envergadura e a corda - desta incrível asa inflável que é uma roupa.
Para chegar até o primeiro salto vestindo a wing suit, são necessários 200 saltos de paraquedas. Para quem sonha em voar o traje com asas, o caminho é praticar o máximo possível de Track Jumps - o salto de deslocamento. Mesmo sem um traje especial, pode-se deslocar a um planeio de 0,7:1 usando-se a posição correta de voo. Ou seja, é possível deslocar-se 0,7 metros para a frente, para cada metro que se cai em direção à terra. Parece pouco mas não é.
Em seguida veio o Tracking Suit, que é possível provar a partir de 90 saltos de paraquedas. Este traje é inflável mas não tem asas, é mais difícil de controlar em voo mas muito mais fácil e seguro para o comando do paraquedas: a asa pode atrapalhar neste momento, o que já causou muitos acidente inclusive fatais. Por isso existe um treinamento correto para se chegar até a wing suit.
A minha preparação incluiu quase 100 saltos com a wing suit, sendo 70 deles com o mesmo modelo que iria usar para seu salto de BASE jump, a ser realizado na Europa meses mais tarde. Dentro desta preparação realizei dois saltos de balão nos Estados Unidos, de forma a me preparar para a saída sem vento. Nos saltos BASE não deve haver vento na saída, para evitar chocar-se contra o objeto (montanha por exemplo) de onde se está saltando.
No avião sempre há muito vento na saída, e no balão - assim como no salto BASE em si - não há nenhum vento na saída. Isso torna os saltos de balão um excelente treinamento para quem deseja saltar BASE no futuro. Não há objeto para bater após o salto, nem após a abertura, e pode-se treinar as técnicas de pilotagem subterminal e após a abertura. Enfim, é algo a se fazer antes de saltar BASE.
Em 17 de Julho de 2012, e com algumas lacunas na fase final do meu treinamento, fiz o meu primeiro salto BASE no Monte Brento na Itália. Tive insights de que não deveria saltar com a wing suit, mas apoiado em um sólido treinamento de 2 meses com mais de 100 saltos, optei por saltar usando o traje com asas.
Após uma saída e voo sem erros, no momento de comandar eu não encontrei o comando do paraquedas - um erro chamado no-pull-find. Consegui a extração na segunda tentativa, suficiente para salvar minha vida. Sobrevivi ao grave acidente, com impacto logo após a abertura do paraquedas, que não chegou a inflar completamente na abertura.
O salto do acidente foi no Monte Brento, na Itália, e após várias horas de cirurgia, fui avisado que talvez tivesse que amputar o pé direito. Durante os 10 meses seguintes foram 5 cirurgias e muita fisioterapia na tentativa de mantê-lo, mas no final acabei optando pela amputação do pé, para uma melhor qualidade de vida e para poder retornar ao voo com asas infláveis.
O real valor do pé é a sua utilidade, porém os danos foram muito severos para que o pé fosse de alguma utilidade. A maior parte dos movimentos seriam perdidos, e uma boa prótese de fibra de carbono me permite maior mobilidade e qualidade de vida e a retomada dos esportes aéreos que eu tanto amo. O retorno ao parapente acrobático foi em 2 meses em Organyà em 2014, e em 2015 eu já fiz alguns saltos de paraqueda de aviões.
Durante a temporada de parapente na catalunya, pratiquei 15 minutos no túnel de vento na área de salto de Empuriabrava, onde tive a certeza que daria certo. Os saltos foram Track Jumps, sendo 3 com a Squirrel SUMO, uma Tracking Suit que me permitiu retomar o voo humano desde os primeiros saltos de paraquedas após a amputação.
A temporada de retorno ao parapente acrobático terminou na Copa Icaro 2014, onde cedi uma entrevista à maior revista mundial de voo livre, a Cross Country Magazine. Na entrevista eu falo sobre a motivação e superação para retornar à acrobacia em parapente, sobre os equipamentos usados no retorno aos esportes, e sobre a prótese Össur VariFlex Modular - que uso no dia a dia e também para voar e fazer acro de parapente e para saltar de paraquedas.
O projeto é um dia escrever um livro - No Fluxo de Ar - contando a minha história, meu acidente, a superação das dificuldades para poder retornar aos esportes que amo. E as lições aprendidas neste caminho, que são verdadeiras lições de vida. Tentei produzir um documentário Com o Pé Direito, que contaria a história do acidente e da superação, e o retorno aos esportes que amo, mas o projeto acabou não indo adiante.